terça-feira, 14 de outubro de 2014

Manifesto de integrantes da Rede rejeita apoio de Marina Silva a Aécio.



Do G1 


Um grupo de integrantes da Rede Sustentabilidade coleta assinaturas para um manifesto que rejeita o apoio da candidata derrotada à Presidência Marina Silva (PSB), ao candidato do PSDB, Aécio Neves, no segundo turno da eleição para presidente. O manifesto (leia íntegra ao final desta reportagem) foi organizado por um segmento da Rede chamado Elo Nacional e, até esta segunda-feira (13), reunia 25 assinaturas, inclusive de membros da Executiva Nacional.

A Rede é um projeto político de Marina e teve o registro como partido negado no ano passado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por não ter reunido o número mínimo de assinaturas necessárias à oficialização de nova legenda. Após a decisão do TSE, a ex-senadora se filiou ao PSB para disputar a Vice-Presidência da República na chapa do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. Com a morte de Campos, Marina concorreu à Presidência pelo partido e ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 21,32% dos votos.

Na sexta-feira, uma nota de esclarecimento divulgada pela Comissão Executiva Nacional da Rede declarava independência, mas reconhecia "a legitimidade de Marina Silva, como nossa ex-candidata, de se posicionar conforme sua consciência".
Marina Silva anunciou o apoio no domingo (12), depois que o tucano aceitou incorporar em seu programa de governo uma série de  compromissos, como adoção de uma política sustentável, ensino integral nas escolas públicas e criação de um fundo para solucionar conflitos entre índios e produtores rurais.

O texto que critica o apoio de Marina a Aécio classifica de “grave erro político” a posição da ex-senadora.

“Os signatários desta [carta aberta] trazem a público a opinião consolidada em amplos setores da sociedade de que constitui-se grave erro político a declaração de voto e a adesão à campanha de Aécio Neves. Nenhuma modificação formal no programa eleitoral de Aécio transformará a natureza de sua candidatura, que não se constitui de palavras, mas de atos de história concreta que indicam sua integração orgânica à desconstituição de direitos, aos ruralistas e ao capital financeiro”, diz o manifesto.

Coordenador e porta-voz da campanha de Marina Silva, o ex-deputado Walter Feldeman afirmou que o manifesto reflete a “transparência” da Rede Sustentabilidade e negou que a divergência possa afetar a criação do partido.

“Eu entendo isso dentro do quadro democrático, de uma estrutura partidária que quer ser o mais transparente possível. Haverá um debate interno. Passado o processo eleitoral, a gente reapruma essas visões. É melhor ser transparente do que vender uma falsa unidade”, disse ao G1.

Sem citar diretamente o nome de Marina Silva, os 25 integrantes da Rede Sustentabilidade que assinam o manifesto defendem neutralidade no segundo turno.

 “A favor da nova política manteremos a nossa independência da polarização PT x PSDB. Ser parte da polarização PT x PSDB destoa do projeto original da Rede Sustentabilidade, que nasceu com o propósito maior de estimular a emergência dos sujeitos autorais, dos indivíduos livres e conscientes, que não se dispõem a realizar suas mais legitimas aspirações e interesses no âmbito da velha, estagnada e conservadora política que tanto PT quanto PSDB representam e praticam.”

O texto afirma ainda que nem o PT nem o PSDB seria capaz de fazer mudanças no Brasil, pois possuiriam em seu “DNA” a “a cultura da velha política, da corrupção, da promoção dos interesses do mercado em detrimento dos direitos sociais e da servidão à lei do mais forte”.

De acordo com os dissidentes da Rede, os dois partidos “usam e abusam da gestão inescrupulosa, do aparelhamento do estado e do poder público para o favorecimento privado, cooptando e sendo cooptados por interesses escusos.”

Leia a íntegra do manifesto:

A favor da nova política

O primeiro turno das eleições presidenciais expôs um Brasil prisioneiro de um paradoxo. O centro de poder decadente, conservador e estagnado na velha polarização PT x PSDB, representada por Dilma e Aécio no segundo turno, enclausurou o efervescente desejo de mudanças manifestado nas jornadas de junho de 2013 e reafirmado pelo posicionamento de aproximadamente dois terços do eleitorado brasileiro.

A crise de representação se aprofundou porque as duas principais máquinas partidárias do país lançaram mão do uso descarado dos instrumentos de poder político, institucional, midiático e econômico para cooptar, coagir, pressionar e manipular a vontade popular, impedindo que esse sentimento de mudança predominante na população se materializasse em uma representação alternativa e consequente no segundo turno.

Qualquer que seja o eleito, Dilma ou Aécio, realizará um governo que queimará recursos naturais e conquistas sociais e se servirá do velho padrão do fisiologismo e do patrimonialismo travestido de “garantia da governabilidade” para preservar um modelo de desenvolvimento baseado nos pilares intocáveis da concentração de renda e da exploração irracional dos recursos naturais.  Isto porque os projetos em disputa mantêm em seu DNA a cultura da velha política, da corrupção, da promoção dos interesses do mercado em detrimento dos direitos sociais, da servidão à lei do mais forte; usam e abusam da gestão inescrupulosa, do aparelhamento do estado e do poder público para o favorecimento privado, cooptando e sendo cooptados por interesses escusos.

Esta é a natureza do poder exercido no governo federal, nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro ou Minas Gerais, independentemente de qual das duas coalizões governe.

Ressaltamos que as conquistas sociais e econômicas alcançadas pelos brasileiros e brasileiras não foram dádivas ou concessões das cúpulas partidárias do PT ou do PSDB. São os frutos de uma longa e difícil história de lutas que prosseguirá  para garantir a preservação dessas conquistas e que precisa avançar até a construção de um modo de vida e de organização social e econômica que propicie vida digna, justa e ambientalmente sustentável para todos nós.

Como afirma a nota divulgada pela executiva Nacional da Rede Sustentabilidade, que reitera a urgência da mudança, é nosso dever “reconhecer que a sociedade  brasileira não encontrou ainda o caminho, as condições e o tempo de realizá-la. Em nossa democracia, a estrutura política e partidária brasileira impediu, mais uma vez, a realização dessa afirmação histórica”.

Neste momento, a humildade diante das adversidades e das limitações impostas pelas condições do presente exige de nós a grandeza necessária para realizarmos uma avaliação profunda de nossos erros e debilidades. Mas, ao mesmo tempo, de reafirmar a persistência no caminho da consolidação e do fortalecimento de uma alternativa de mudança capaz de conquistar, ao lado de nosso povo, a emancipação social, a paz, a felicidade e a sustentabilidade como legado para as gerações futuras. E isso só poderá ser feito se estreitarmos nossos laços com os que acreditam que os sonhos são a matéria prima mais concreta da política.

Diante deste quadro, os signatários desta trazem a público a opinião consolidada em amplos setores da sociedade de que constitui-se grave erro político a declaração de voto e a adesão à campanha de Aécio Neves. Nenhuma modificação formal no programa eleitoral de Aécio transformará a natureza de sua candidatura, que não se constitui de palavras, mas de atos de história concreta que indicam sua integração orgânica à desconstituição de direitos, aos ruralistas e ao capital financeiro.

A favor da nova política manteremos a nossa independência da polarização PT x PSDB. Ser parte da polarização PT x PSDB destoa do projeto original da Rede Sustentabilidade, que nasceu com o propósito maior de estimular a emergência dos sujeitos autorais, dos indivíduos livres e conscientes, que não se dispõem a realizar suas mais legitimas aspirações e interesses no âmbito da velha, estagnada e conservadora política que tanto PT quanto PSDB representam e praticam.

Para mantermos a coerência e a qualificação de nossa intervenção política, só há um caminho: continuar afirmando a necessidade de uma nova e de uma outra política.
Nosso principal desafio é estarmos à altura do presente, olhar para o futuro e enxergar além dessa falsa polarização que representa o passado. É ter a mais firme de todas as posições: rejeitar as duas candidaturas e não indicar voto em nenhum dos dois lados.

É se declarar independente, sem nenhum compromisso com essa nefasta polarização.

Acauã Rodrigues - Elo Nacional da Rede

Antonio Daltro Moura - Elo Nacional da Rede

Cassio Martinho - Executiva Nacional da Rede

Celio Turino - Elo Nacional da Rede

Claudineia Costa - Elo Nacional da Rede

Daniela Vidigal - Elo Nacional da Rede

Eduardo Thorpe - Elo Nacional da Rede

Fernando Oliveira - Elo Nacional da Rede

Fred Mendes - Elo Nacional da Rede

Gilson Tessaro - Elo Nacional da Rede

Haldor Omar - Executiva Nacional da Rede

Jefferson Moura - Executiva Nacional da Rede

Julio Rocha - Executiva Nacional da Rede

Leonel Graça - Elo Nacional da Rede

Luciene Reis - Elo Nacional da Rede

Marcela Moraes

Mario Neto - Elo Nacional da Rede

Martiniano Cavalcante - Executiva Nacional da Rede

Muriel Saragoussi - Executiva Nacional da Rede

Roberto Martins - Elo Nacional da Rede

Urbano Matos - Elo Nacional da Rede

Valeria Tatsch - Elo Nacional da Rede

Washington Carvalho - Elo Nacional da Rede

Carlos Painel - Executiva Nacional

Thiago Rocha - Executiva Nanional

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