No último dia 05 de março, tive a oportunidade de acompanhar um momento histórico em Caruaru, porém esse fato não foi visto nas mídias tradicionais da cidade (rádios, jornais e Tv) que “se dão ao luxo” de não registrarem os importantes momentos em que o proletariado consegue encurralar os representantes patronais, em busca de melhores condições de trabalho, no nosso contexto ou realidade local.
O que de fato é lamentável, pois além de empobrecer o papel de
comunicador social que a mídia deve ter, coloca em “xeque” a credibilidade do
jornalismo caruaruense (em nível nacional, as práticas também são
corporativistas), que atrelado as ideias corporativistas, não cumpre com o seu
dever social democrático de informar. Reduzindo sua função aos moldes dos
discursos retóricos, de uma elite dominadora, egoísta e opressora. Tornando
assim a ética jornalística em hipocrisia midiática.
Mas, o que seria esse fato? A essa indagação, respondemos que
trata-se da reunião de negociação coletiva de trabalho 2015, entre os comerciários
– representados pelo SINDECC – e os lojistas – representados pelo SINDLOJA.
Reunião essa, que ocorreu na sede do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em
Caruaru, no dia 05 de março 2015.
Tal reunião, poderia ser algo comum ao local, sendo só mais uma,
entre os interesses das classes ali presentes. Infelizmente, também não seria
surpresa uma evasão do proletariado nesse ambiente, se levarmos em consideração
nossa atual conjuntura sindical no Brasil e seu processo de fragmentação,
partidarização exacerbada e crise de legitimidade, tanto em via patronal como
em via proletariado. Porém, sendo este último seguimento classista, muito mais
afetado pela ausência ou redução da participação popular nos movimento ano a
ano. E que consequentemente leva ao descrédito de alguns sindicatos e centrais
que de fato não representam os trabalhadores e ainda arranham a imagem
indiretamente de entidades sérias e comprometidas com as classes. A essas
entidades nada mais justo que o título de pelegos e traidores.
O que não é o caso da entidade aqui citada, pois além de não se submeter a caprichos patronais, o SINDECC tem um grande respaldo perante a sociedade por cumprir seu dever de responsabilidade social, sem deixar entrar em suas dependências a estratégia política cancerígena de cooptação muito comum em Caruaru, sendo um dos elementos responsáveis pela manutenção do conservadorismo político em nossa cidade a mais de 50 anos.
No entanto em meio à crise de legitimidade das instituições representativas em nível de Brasil, sejam essas entidades partidos políticos, associações, sindicatos e etc. Tal evento histórico de 05 de março, quebrou essa ordem. Pois a classe trabalhadora junto ao seu sindicato (SINDECC) lotaram o auditório do MTE. Onde a atitude de lutar por seus direitos, melhores condições de salário, de trabalho e de vida, deve ser algo comum a todos. E que a partir desse ato, possamos acrescentar em nosso cotidiano essa prática reivindicatória em algo continuo, e não discuti-la apenas na perspectiva de uma exceção memorável.
Voltando ao embate. Tal ação, causou forte impacto e surpresa aos
representantes patronais presentes no recinto, a surpresa nítida nos seus
semblantes, traziam também a perceptível e gritante mistura de sentimentos em
relação a classe trabalhadora que ali se fez presente. Enquanto as expressões
patronais ficavam remetidas a uma mistura de surpresa, tensão, raiva e medo.
Contrastando assim com a classe trabalhadora, que sentia-se mais à vontade em
cobrar o que é dela por direito. Foi um cenário diferente do que os patrões
estão acostumados a ver, seja nas relações do dia a dia dentro de suas empresas
ou até nas mesas de negociações com a presença apenas dos representantes
sindicais. O que nunca foi nenhum segredo, pois o fortalecimento da entidade se
dar com a participação da classe operária efetiva e sem ela pouco se conquista.
Voltando ao “fato” pelo “fato”. O que de fato os comerciários
conseguiram ganhar nas negociações? A essa indagação, podemos responder da
seguinte forma: Se as negociação e o contexto que a mesma foi realizada
estivesse seguindo a linha comum do dia a dia das mediações do MTE, iriamos nos
restringir a números e valores financeiros. Mas como se trata de uma fato
histórico e história é uma ciência humana, não nos limitaremos a explicar os
ganhos na perspectiva quantitativas. Analisamos na verdade os ganhos
qualitativos dos trabalhadores e da entidade sindical, onde o verdadeiro ganho
foi político, foi o estouro de uma bolha de conforto de sobrevivência que
prende o trabalhador. Bolha que não foi constituída de água e sabão, mas com
elementos do consumismo, individualismo, desumanização e despolitização da
classe trabalhadora. Elementos que fazem parte um sistema maior chamado de
capitalismo.
Há de fato uma agulha que estourou essa bolha, e esse choque não
foi obra do acaso, não foi apenas movimento natural dos ventos que levaram a
esse encontro casual. É fruto de um sindicato que mesmo nos momentos difíceis,
nunca desiste de lutar pela classe trabalhadora. Pressupomos que o sindicato
dos comerciário (SINDECC) comunga de que a maior conquista do últimos dia 05 de
março 2015, não tenha sido financeira, mas sim política.
E Deixado o “oba oba” de lado, vale salientar que a história
jamais se repete, se a noite dia 05 de março, foi marcada por comerciários que
lotaram o auditório do MTE, os próximos encontros não serão desta maneira,
também podemos lotar o prédio (é o que esperamos, por que não?) ou estarmos com
o auditório vazio (um fim trágico, mas possível.). Queremos com isso mostrar
aos que ainda duvidam, que sindicato não é “marca de grife”, sindicato é uma
“bandeira de luta”! Queremos dizer a classe trabalhadora, que ganhamos apenas
uma batalha de uma guerra em curso. Pois já dizia o velho Marx: “Proletários
unam-se”!
por Jefferson Abraão
Fonte: atonamidia.com
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