quarta-feira, 1 de outubro de 2014

BATEMOS UM PAPO COM RUI COSTA PIMENTA, CANDIDATO À PRESIDÊNCIA PELO PARTIDO DA CAUSA OPERÁRIA.

Armas, drogas, revolução, Foro de São Paulo, PSOL, PT, socialismo, liberalismo, movimento libertário... nada escapou.Rui Costa Pimenta

“Quem bate cartão, não vota em patrão”. Se você acompanhou minimamente o horário eleitoral brasileiro nesses últimos anos certamente conhece o jargão do candidato do PCO à presidência, Rui Costa Pimenta. Formado em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, Rui atuou desde muito cedo no movimento estudantil e sindical, e foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, onde saiu por divergências para fundar o seu Partido da Causa Operária, em 1995 – por onde disputa o cargo máximo político do país pela quarta vez.
Armas, drogas, revolução, Foro de São Paulo, PSOL, PT, socialismo, liberalismo, movimento libertário… nada escapou nesse bate papo de meia hora de um dos principais representantes da esquerda revolucionária brasileira com Joel Pinheiro.

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JOEL PINHEIRO:  Rui, é um prazer recebê-lo aqui conosco. Muito obrigado por topar a entrevista.
RUI COSTA PIMENTA: Eu que agradeço. Prazer é meu.
JOEL PINHEIRO: Bom, eu queria começar tratando de uma questão que surgiu em algumas entrevistas suas: a questão do porte de armas. Qual o posicionamento da sua candidatura sobre essa questão?
RUI COSTA PIMENTA: Nós defendemos, em geral, um programa democrático. E um dos elementos fundamentais do programa democrático – historicamente falando, do período do estabelecimento da democracia no mundo – era sempre o problema de que você não podia ficar sob o jugo de um exército profissional, uma burocracia que atuasse contra a população – que era a característica das monarquias absolutas – mas que a própria cidadania deveria se armar e com isso adquirir um controle da situação política. É nesse sentido que nós defendemos o direito do cidadão de possuir e portar armas. Porque hoje nós temos uma situação parecida a do passado: uma burocracia – polícia, exército, é uma burocracia – não controlada pelo povo e que como todo mundo vê o tempo todo, particularmente no Brasil essa situação é flagrante, é um instrumento de opressão, pior até do que eram as forças militares, as Forças Armadas, na época do absolutismo.
JOEL PINHEIRO: Você acha que piorou?
RUI COSTA PIMENTA: Eu acho que o Estado atual é uma burocracia muito superior. Ela é um desenvolvimento, uma hipertrofia, do Estado absolutista.
JOEL PINHEIRO: E no que diz respeito à segurança pública, você acha que essa questão do porte de armas tem uma relevância direta também? Ela ajudaria? Ela talvez pioraria? Qual a sua opinião?
RUI COSTA PIMENTA: A nossa primeira preocupação não é segurança pública. É o direito democrático do povo. Pra nós, o problema dos direitos vem antes de qualquer outra questão – segurança, conveniências A, B e C, etc. Agora, eu acho que sim. Polícia é uma burocracia, ela não se interessa pela situação do povo. Vocês viram na semana passada o assassinato de um camelô por um policial que foi filmado por populares – esse aí é o retrato da nossa polícia. O soldado nem hesitou. O cidadão chegou perto dele, ele atirou na cabeça dele. Essa polícia é pior que a guarda pretoriana dos imperadores romanos.
JOEL PINHEIRO: O tema da revolução é presente na política hoje? Vocês gostariam de trazer essa questão da força revolucionária? É parte das propostas do PCO ou ele abandona essa causa ao entrar nessa política padrão?
RUI COSTA PIMENTA: Pelo contrário. Nós só acreditamos na revolução. Nós achamos que pra você mudar substancialmente o regime político, a economia e a situação social do Brasil e do mundo, só a revolução. Só quando as amplas massas populares tomarem os seus destinos em suas mãos que a coisa irá mudar. Nós não temos nenhuma expectativa na mudança pela via eleitoral.
JOEL PINHEIRO: Mas então como é que se justifica a candidatura?
RUI COSTA PIMENTA: Nós consideramos que a eleição é como se fosse uma campanha de propaganda privilegiada, porque a própria burguesia, a própria classe dominante, chama o povo através do Estado – que é uma máquina poderosa – a participar de um debate político. Então nós consideramos que nós temos que estar presentes aí, que se a gente puder eleger um deputado – embora ele não pudesse mudar nada – ajudaria a avançar no esclarecimento da população. E logicamente que nós não partimos de uma ideia abstrata de revolução, mas nós lutamos no dia a dia por todos os interesses, por menores que sejam, das camadas populares – a começar pela classe operária. Nós achamos que esse é o meio de você chegar à organização e à consciência necessária para a revolução.
JOEL PINHEIRO: Por parte de pensadores da esquerda – se é que eu posso usar o termo de “esquerda radical” – há, às vezes, a ideia de que uma parte mais moderada chama de conquistas trabalhistas, no fundo seja algo que apazigua e dificulta o trabalho realmente revolucionário. Como você se coloca em relação a isso: ao trabalhismo e as conquistas que sejam ditas dos trabalhadores (CLT, aumento do salário mínimo e todo resto)?
RUI COSTA PIMENTA: Eu acho que essa é uma concepção equivocada porque mistura duas coisas absolutamente diferentes. Uma coisa são as conquistas. Por exemplo, a legislação trabalhista no mundo só aconteceu de fato, em larga escala, de maneira sistemática, depois da Revolução Russa. Foi uma conquista revolucionária dos trabalhadores do mundo inteiro – em primeiro lugar dos russos. Porque o primeiro governo russo, a primeira coisa que ele fez, foi colocar em prática uma completa legislação trabalhista atendendo todas as revindicações que os trabalhadores tinham apresentado e lutado por elas. A burguesia, uma vez que ela vê isso daí como uma coisa inevitável, ela trata de organizar a coisa da sua maneira. Ela organiza essas conquistas – que ela considera que são inevitáveis, que ela nunca deu, que ela nunca iria dar, que ela resistiu até onde foi possível – ela organiza para tentar criar uma política de colaboração de classes. O que é uma deturpação, um desvirtuamento da conquista original. Mas a conquista é uma conquista, e o desvirtuamento é uma outra coisa, uma política da burguesia.

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JOEL PINHEIRO: Você citou o papel da Rússia. Dentro do socialismo real, qual seria o paradigma, o modelo preferencial do PCO?
RUI COSTA PIMENTA: Nós não usamos essa expressão “socialismo real”. Entendo o que isso significa, mas nós achamos que é um equívoco. Esses países não são socialistas. Nós somos marxistas e como tais somente acreditamos que o socialismo possa ser criado em escala internacional. O nível de desenvolvimento econômico de um único país, mesmo que fossem os Estados Unidos da América do Norte, não é possível de criar uma base para o socialismo. É preciso reunir as forças produtivas dos países mais avançados do mundo, estabelecer uma cooperação internacional, um sistema econômico internacional, que o próprio capitalismo já desenvolveu, numa certa medida, pra que você possa chegar ao socialismo. Então, falar em socialismo em Cuba, no Vietnã, é uma impropriedade. A gente poderia dizer que você tem um governo – se for o caso – que luta pelo socialismo, que se dirige no sentido do socialismo. Mas que isso daí seja um regime socialista, é absolutamente falso. 
JOEL PINHEIRO: Voltando um pouco pro Brasil, a gente tem nos últimos anos a ascensão clara de um partido da ala mais à esquerda que tem ganho muita atenção da mídia, com alguns políticos de destaque – como Jean Wyllys, Marcelo Freixo – estou falando obviamente do PSOL, que tá aí com a candidata Luciana Genro, qual é a postura do PCO em relação ao PSOL?
RUI COSTA PIMENTA: O PCO, diferentemente de outros partidos de esquerda, reconhece que dentro da sociedade há várias variedades de esquerda e de socialismo. Nós consideramos que o PSOL é um partido de esquerda, embora tenha muita coisa direitista…
JOEL PINHEIRO: Algum exemplo de alguma coisa direitista do PSOL?
RUI COSTA PIMENTA: Por exemplo, a candidatura presidencial do PSOL na primeira eleição era contra o aborto, contra os sem-terra. Era a favor de colocar mulheres na cadeia por aborto, de dar dinheiro para empresas multinacionais. Eles tem várias coisas assim. O Freixo defendeu a presença da UPP nos morros do Rio de Janeiro. Tudo isso é uma política de direita, que eles adotam. Agora isso aí não transforma eles num partido de direita, lógico. Só que nós não consideramos que eles são um partido socialista da classe trabalhadora. Não é um socialismo de trabalhadores, operários, não é um socialismo proletário. É um socialismo de classe média, um socialismo pequeno burguês. Se você pegar o Manifesto Comunista você vai ver que Marx já fazia a distinção entre vários tipos de socialismo, porque a sociedade capitalista cria uma diversidade de oposição a ela. Daí surgirem esses tipos de socialismo. Não é o nosso socialismo, não tem nada a ver com a gente, mas a gente entende que é também um tipo de oposição. Não acredito que seja revolucionário, e não acredito que tenha muito futuro também.
JOEL PINHEIRO: Num segundo turno, como está pintando, como é que o PCO se coloca?
RUI COSTA PIMENTA: Eu posso te falar que a inclinação geral do partido é pelo voto nulo. Agora, nós não vamos tomar nenhuma decisão antecipadamente. Nós vamos esperar o primeiro turno das eleições, vamos fazer uma análise. Vamos chamar uma conferência com delegados do partido do país inteiro, aí nós vamos firmar uma posição sobre o segundo turno. Logicamente que nós fazemos uma distinção entre PT e os outros dois candidatos que foram selecionados. Esses três candidatos nós fazemos uma distinção entre o PT e os outros dois, que são candidatos abertamente da direita.
JOEL PINHEIRO: E o PT é um partido de direita também? Ou de alguma forma está mais à esquerda?
RUI COSTA PIMENTA: Não, é como eu falei – há muitos tipos de esquerda e o PT é um desses tipos. É uma esquerda vinculada a setores capitalistas. Eles entendem a ideia de que a burguesia, o capitalismo, possa produzir uma esquerda. Mas isso é falso. Antes do golpe de 1964, tivemos os governos do PTB, que eram governos de uma esquerda burguesa. O PT é uma esquerda moderada, não revolucionária. Uma esquerda que, na nossa opinião inclusive, trabalha numa política muito intensa de colaboração de classes, que procura mudanças pequenas, sem ambição, mas é uma esquerda.

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JOEL PINHEIRO: Se o modelo do PCO é o socialismo proletário, na sua opinião o que falta pro PCO ter uma adesão maior por parte do proletariado?
RUI COSTA PIMENTA: Esse problema da adesão é um processo histórico. Quando a ditadura estava para acabar nós participamos da construção do PT como um processo de organização da classe operária. A classe operária, uma boa parte dela, vota no PT. Existe um número bastante grande, principalmente dos setores mais organizados, mais politizados, que votam no PT. Eu acho que a classe operária vem fazendo uma experiência com o PT e por isso também, digamos assim, o gradualismo, as condições políticas em que se desenvolvem essas experiências impediram a formação de um outro partido poderoso, ao lado do PT. Eu acho que nós estamos entrando numa nova fase, os trabalhadores estão insatisfeitos com o PT – acho que irão votar no PT por uma questão de necessidade, pelo tipo de jogo de manipulação que é a eleição – mas eu acho que está aberta a possibilidade para a criação de um novo partido de trabalhadores, de um porte maior, de uma presença política maior. O que logicamente implica numa modificação das relações sindicais, dentro do movimento popular, dentro do movimento agrário, dentro do movimento estudantil. E eu acho que tudo isso aí está a caminho. Isso explica o fato de que o desenvolvimento do PCO – que existe, o PCO vem se desenvolvendo – seja bastante lento. Mas eu acho que a situação está para mudar.
JOEL PINHEIRO: Pensando nas demandas do trabalho, qual seria o salário mínimo ideal na sua visão?
RUI COSTA PIMENTA: A nossa posição, que muita gente que não é da classe trabalhadora estranha, é muito simples: nós revindicamos que o capitalismo, se ele vai manter uma grande quantidade de escravos assalariados, que ele pague as necessidades básicas desses escravos. Não pode manter uma sociedade onde, para que o capitalismo sobreviva, você tenha que degradar completamente a vida das pessoas. Então nós propomos um salário mínimo vital – ou seja, que atenda todas as necessidades vitais – que seja calculado pelas próprias organizações sindicais, e que na nossa opinião, para esse cálculo hoje, estaria por volta de R$3 mil, R$3.500. O que não é nada de se estranhar, porque o Dieese, que é uma espécie de organização ligada de certa forma aos sindicatos, chega num salário parecido com esse. E a constituição nacional também dá os critérios que levariam a esse número. Então essa é a nossa proposta.
JOEL PINHEIRO: E haveria problema com números ainda mais altos do que esse? Pensando em R$7 mil, R$10 mil? O que impede de chegar a números ainda mais altos?
RUI COSTA PIMENTA: Mas aí qual seria o critério para você chegar nesses números?
JOEL PINHEIRO: Pensando na melhoria da qualidade de vida pra aproximação de uma renda de primeiro mundo.
RUI COSTA PIMENTA: Não, tudo bem, esse salário já é uma aproximação de uma renda de primeiro mundo. Esse seria um salário de mil e tantos dólares. Você tem os países, digamos assim, desenvolvidos, os países imperialistas, tem salários que vão de mil e poucos dólares a três mil dólares. Mas eu acho que você tem que ter um cálculo, porque é um problema econômico, e esse cálculo deve obedecer um critério. Nós temos esse critério, que é o conjunto das necessidades básicas dos trabalhadores. A gente tem que entender também o seguinte – a economia funciona de uma certa forma. Então há trabalhadores especializados que ganhariam mais que um salário mínimo, e assim por diante. Esse é o mínimo.
JOEL PINHEIRO: Mudando o escopo agora para a política de descriminalização das drogas, que também é uma bandeira do PCO. Qual seria o modelo ideal dessa política?
RUI COSTA PIMENTA: Nós achamos que esse crime das drogas é um crime imaginário. É uma situação análoga ao que aconteceu nos Estados Unidos, quando da época da Lei Seca, da proibição do consumo de álcool. Uma lei que passa pela cabeça de uns fanáticos moralistas e religiosos, e que é explorada por uns espertalhões, para a repressão geral da população. A população carcerária que existe por crimes relacionados à droga é gigantesca. Então isso aí é uma situação extremamente anômala e só tem servido para degradar a vida da população. Nós achamos que as drogas deveriam sair da clandestinidade, deveriam ser liberadas. E deveriam ser regulamentadas pelo poder público. Dessa forma, seria possível ter uma maneira de combater – porque nós achamos que a droga não é uma coisa positiva, em geral – o consumo de drogas que fosse uma maneira real, eficaz e humana. Porque a maneira atual é pura repressão. Inclusive a pretexto da droga a população carcerária aumenta no mundo todo. 
JOEL PINHEIRO: Acaba gerando implicações em diversos campos. Inclusive na população carcerária. Sem dúvida.
RUI COSTA PIMENTA: Problemas de saúde também. Muita gente consome produto contaminado, produto adulterado, e isso gera enormes problemas de saúde.
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JOEL PINHEIRO: Certas vozes de uma direita conservadora brasileira levantam a questão do Foro de São Paulo, que é uma união internacional latino americana de diversos partidos de esquerda. Qual a sua visão sobre esse Foro de São Paulo? Ele tem alguma relevância? Qual a posição do PCO quanto a ele?
RUI COSTA PIMENTA: O Foro de São Paulo é a organização da esquerda mais moderada da América Latina e do mundo. É uma esquerda em geral parlamentar. A direita não deveria ficar tão espantada com o Foro de São Paulo porque pode ter coisa muito mais ameaçadora para a direita e para o capitalismo do que o Foro de São Paulo. Eu acho que isso daí é propaganda anticomunista, criam um espantalho sobre o Foro de São Paulo, que é ultramoderado. E isso não corresponde a nenhuma realidade. O Foro de São Paulo não é nenhuma Terceira Internacional, não é nenhuma Tricontinental, como os cubanos fizeram na época da guerrilha. É uma organização parlamentar, de partidos de esquerda, na sua maioria todos bem integrados nos regimes políticos de seus países, mas que, logicamente, são partidos que, numa certa medida, afetam os interesses dos donos do planeta, que não querem a resistência às suas políticas brutais e violentas.
JOEL PINHEIRO: Você acha que é possível reconhecer algum mérito em posições políticas mais liberais? Ou você acha que elas estão intrinsecamente ligadas a causas e ideologias de dominação e opressão?
RUI COSTA PIMENTA: Não, eu acho que há posições liberais que são um produto histórico, que tem uma relevância. As posições políticas. Não vejo que elas necessariamente estejam ligadas, por exemplo, à violência, ao canibalismo do neoliberalismo econômico – que eu acho que não é nem um pouquinho liberal, também, tem esse detalhe. Acho que o liberalismo é uma coisa do passado, é uma peça de museu. E eu acho que os liberais que falam em nome do liberalismo são os piores antiliberais que o mundo já conheceu até hoje. Em todos os sentidos, econômico e político. Veja-se que todos eles apoiaram a ditadura do Pinochet. Se isso for uma coisa liberal, então as palavras mudaram completamente do conteúdo.
JOEL PINHEIRO: Que causas liberais você assinalaria como positivas ou passiveis de uma defesa por quem é de esquerda?
RUI COSTA PIMENTA: O liberalismo, que é uma forma moderada da política democrática, da política revolucionária da burguesia, se concentrou nos direitos individuais. Eu acho que muitos dos direitos individuais, que são liberdades democráticas importantes, eles continuam vigentes. E que eles devem ser defendidos – a liberdade de expressão, a liberdade de organização, de reunião, liberdade de pensamento, liberdade religiosa. Tudo isso faz parte da doutrina liberal. É uma herança também da burguesia revolucionária, mas faz parte da doutrina liberal. Com muitas dessas coisas nós concordamos. Por exemplo, nós não somos favoráveis a nenhum tipo de censura. Ao passo que uma parte da esquerda é favorável a uma censura de costumes. Se alguém falar mal, ou falar de maneira negativa de mulheres, de homossexuais, de minorias, de índios, deveria ser censurado, deveria ser proibido. Embora a gente, logicamente, não concorde com se falar mal de mulheres, etc, nós não somos favoráveis de proibir ninguém de falar. Acho que cada um fala o que quer e o problema tem que ser colocado em outro terreno.
JOEL PINHEIRO: Vamos se aproximando aqui do fim da nossa conversa. Caso o PCO cresça, consiga eleger candidatos e propor políticas e propostas, quais seriam as principais resistências da população? O que seria o mais difícil de mudar?
RUI COSTA PIMENTA: Você diz na própria população?
JOEL PINHEIRO: Podemos falar das duas coisas – da resistência do eleitor e, por outro lado, da resistência do sistema ou da burocracia.
RUI COSTA PIMENTA: Eu acho que, do ponto de vista do eleitor, a classe trabalhadora e inclusive certos setores da classe média, eu não vejo que haja uma resistência que venha do interior desses setores – com a exceção de alguns bolsões, de algumas minorias…
JOEL PINHEIRO: Como por exemplo?
RUI COSTA PIMENTA: Ah, questões como do aborto, que enfrenta resistência religiosa. Eu acho que se houvesse um debate claro, se explicasse o que realmente está por trás disso – que o pessoal quer colocar essas mulheres, que estão numa situação extremamente negativas, na cadeia – eu não acho que a maioria da população seja favorável a esses métodos brutais. O que há é uma confusão. Não há um debate claro. Eu acho que o povo, de um modo geral, tanto trabalhadores, como classe média, é receptivo no Brasil a ideias progressistas, é um povo que tem um sentimento, em geral, de humanidade – que não tem nada a ver com a direita, que a gente vê aí, que é extremamente desumana. A solidariedade, a simpatia pelas dificuldades alheias, é uma característica geral do povo brasileiro. Eu acho que uma boa discussão faria com que as propostas fossem progredindo. Acho que justamente a resistência vem de outro lado, das pessoas que não querem a discussão, que confundem o panorama, que fazem campanhas caluniosas, que atacam, que falsificam as coisas, etc. Agora, eu acho que muitas das nossas propostas enfrentariam essa resistência.
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JOEL PINHEIRO: Temos no Brasil hoje em dia o crescimento de algo que tem sido denominado movimento libertário – que é, digamos, uma radicalização do liberalismo -, que quebra inclusive com a relação Estados e grandes empresas – vê isso como negativo e quer realmente instituir a maior liberdade, direitos individuais e concorrência, sem nenhum tipo de favoritismo para alguém. O que você pensa disso?
RUI COSTA PIMENTA: Bom, esse movimento libertário é uma coisa, se você está falando em geral – porque tem aí o Partido Libertário – se você está falando em geral, é uma coisa muito vasta. Acho que isso daí expressa um sentimento em geral de classe média, que é uma classe que tem um tradicional conflito com o Estado, e muita confusão. Os trabalhadores veem o problema do Estado de maneira diferente. Como eles são uma força muito grande, numérica, quando eles se mobilizam, eles tendem a tentar colocar o Estado a seu serviço. A classe média não consegue ver essa possibilidade porque ela realmente não tem essa força. Não é uma massa tão coesa quanto os trabalhadores – você vê que os trabalhadores impuseram ao Estado toda uma legislação trabalhista. A classe média não conseguiu nada nem parecido com isso. Então daí a desconfiança de que o Estado não estará a serviço deles. Mas essa mentalidade eu acredito que seja um beco sem saída. Nós estamos num mundo concreto, onde existe o Estado, onde o Estado não pode ser demitido, não pode ser exonerado, não pode ser simplesmente aniquilado – e infelizmente é um produto histórico, nós vamos ter que viver até que as condições sociais e econômicas permitam, num futuro, o desaparecimento do Estado.
JOEL PINHEIRO: É a finalidade última mesmo em Marx também, o desaparecimento do Estado.
RUI COSTA PIMENTA: Exatamente. Nós pensamos, como Marx, que o Estado eventualmente desapareceria. Mas pra isso são necessárias condições de um grande desenvolvimento econômico, que acabe com os conflitos sociais.
JOEL PINHEIRO: Agora uma última pergunta, pensando de novo no caminho revolucionário: se uma revolução ocorresse no Brasil, ela se daria com a violência que ocorreu também na União Soviética, ou mesmo em Cuba, com direito inclusive a execuções e julgamentos sumários? Ou você acha que é possível fazê-lo de outra forma?
RUI COSTA PIMENTA: O problema da violência da revolução tem que ser visto concretamente. O meu estudo da revolução, a experiência história mostra, que o povo revolucionário começa com uma disposição muito pacífica. Se você conhece bem a ação da população, ela tende a ser pacífica. Quando a classe dominante resiste é que a coisa se transforma numa violência – é uma resposta em geral à violência dos opositores. Foi assim na Revolução Francesa – o problema da guilhotina e a época do terror, aparece bem tarde na revolução, depois de várias tentativas contra revolucionárias, traições, que exasperaram o ânimo da população. Na Revolução Russa foi a mesma coisa. A revolução começou de maneira tão pacífica, que a tomada de poder não deu mais que dez mortes. Quer dizer, em São Paulo morre mais gente do que morreu na Revolução Russa, quase todo dia por violência. Liberaram o primeiro ministro, que era o Kerensky, e depois quando a Revolução Russa foi atacada violentamente a reação do povo foi violenta e aí a coisa engrossou. Em Cuba, nós temos uma violência extraordinária – o regime Batista era um regime violentíssimo, tinha matado muita gente – quando a revolução explode o ódio popular estava praticamente como um vulcão em erupção. Daí aconteceram os fuzilamentos, que como o próprio Che Guevara falou, foram uma exigência da própria população – contra os torturadores, os assassinos do regime. Eu vejo que a revolução acaba sendo violenta, nós temos que ser realistas a respeito disso, mas na verdade a violência é sempre uma reação à violência maior dos inimigos. Eu vi uma notícia hoje que o imperialismo norte americano nesse exato momento está envolvido em 138 conflitos militares internacionais – você imagina quanta violência não é isso daí?
JOEL PINHEIRO: Bom, é isso. Eu conversei com Rui Costa Pimenta, candidato à presidência pelo PCO. Foi um prazer, candidato e até a próxima.
RUI COSTA PIMENTA: Até a próxima. Muito obrigado.

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