Diante do atual quadro político nacional, uma das alternativas para barrar
todos os ataques deste congresso de corruptos é a classe trabalhadora tomar as
ruas. Para isso, o trabalho de base que as Centrais Sindicais vêm fazendo se
torna determinantemente importante. No dia 28 de abril foi assim. No 24 de maio,
quando mais de 150 mil trabalhadores marcharam para o congresso, querendo
arrancar cada político corrupto de lá. Esse tem sido o termômetro da classe
trabalhadora no Brasil. “Nós acreditamos que é fundamental, além da luta, fortalecer a
organização dos trabalhadores e do povo pobre. Por isto estamos estimulando a
organização dos Comitês de Luta contra as reformas e de preparação das lutas” afirma
Zé Maria, Militante do PSTU e da CSP Conlutas – Central Sindical e Popular, em
entrevista concedida a Ricardo Soares do Departamento de Imprensa do SINDECC.
SINDECC - No último dia 24 de maio, as centrais sindicais levaram para Brasília
caravanas de norte a sul do país, cerca de 150 mil pessoas gritavam fora Temer.
Como você e a CSP Conlutas avaliaram esse ato?
Zé Maria - A manifestação realizada em Brasília neste 24 de maio foi um momento
muito importante do processo de lutas dos trabalhadores em curso no país,
contra as reformas da previdência, trabalhista e a terceirização, e também
contra o governo do presidente Temer e este Congresso Nacional cheio de corruptos
que está aí.
Não só porque foi uma grande manifestação. Além disso, foi também uma
manifestação muito radicalizada, e a firmeza que tiveram os manifestantes, ao
enfrentar a brutal repressão policial que houve lá, é bastante representativa
do sentimento que há entre os trabalhadores de todo país. Em todo lado foi
muito grande o apoio da classe trabalhadora à atitude que tiveram os
manifestantes em Brasília. Isso mostra que está acabando a paciência das
pessoas com tantos desmandos em nosso país. Isso é importante para a
continuidade da luta.
Também foi importante porque os manifestantes de todo o país, que
estiveram em Brasília naquela data, viram perfeitamente que nada se pode
esperar nem do governo nem do Congresso Nacional. Que eles não estão nem aí
para o que pensa e quer os trabalhadores e o povo. Que só vamos mudar o rumo
dos acontecimentos em nosso país se lutarmos para isso.
Por último a manifestação do dia 24 mostrou que os trabalhadores estão
muito à frete da maioria dos seus dirigentes. No enfrentamento com a repressão
policial estavam não só os trabalhadores e jovens ligados à CSP-Conlutas, mas
trabalhadores e mesmo muito dirigentes ligados a todas as centrais, apesar de a
cúpula dessas centrais (à exceção da CSP-Conlutas) terem defendido a aceitação
dos limites que a polícia queria impor à manifestação. Precisamos estimular
mais isso, pois se os trabalhadores não passarem por cima destes desta cúpula,
terão suas lutas limitadas ao que permitirem as autoridades, as mesmas que
estão retirando nossos direitos.
SINDECC - Tivemos recentemente uma série de
manifestações populares da classe trabalhadora. O 08 de março (Dia
Internacional da Mulher) foi bastante importante. Depois, tivemos o 15 de março
com mobilizações por todo o país, até chegar o dia 28 de abril, onde muito se
questionava a distância de datas, porém, foi um dia vitorioso para a classe
trabalhadora, culminando o dia 24 de maio em Brasília. Além desses atos, como a
Central Sindical e Popular, vem fazendo o trabalho de base?
Zé Maria - Nós acreditamos que é fundamental, além da luta, fortalecer a
organização dos trabalhadores e do povo pobre. Por isto estamos estimulando a
organização dos Comitês de Luta contra as reformas e de preparação das lutas.
Agora mesmo, temos uma nova greve geral marcada para 30 de junho. É muito
importante estimular e que sejam realizadas assembleias na base, nos sindicatos
e nos locais de trabalho. E que sejam organizados Comitês de Luta em todos os
locais de trabalho, nos bairros, em cada rua...assim vamos criar condições não
apenas para fortalecer a mobilização, mas também para que os trabalhadores e o
povo aprendam a determinar o que fazer e a tomar em suas mãos, primeiro o
destino das suas lutas e, depois, os destinos deste país.
SINDECC - No dia 24 de maio ficou nítida a força que a CSP Conlutas tem no
movimento sindical. Quem esteve presente presenciou a ação da Central já na
primeira tentativa de bloqueio da Polícia Militar. Os trabalhadores e
trabalhadoras puxados pela Central, não se intimidaram e seguiram a marcha. A
coluna da CSP Conlutas, no seu ponto de vista, foi essencial para a
continuidade deste ato?
Zé Maria - O que a CSP Conlutas fez ali foi o que toda organização dos
trabalhadores, que tem de fato compromisso com a defesa de seus interesses,
deveria fazer. Infelizmente o fato de as demais centrais terem agido em sentido
contrário mostra o grande problema que os trabalhadores têm hoje para avançar
nas suas lutas: as suas próprias organizações, que são dirigidas por uma cúpula
que não tem, de verdade, disposição de enfrentar as adversidades que precisamos
enfrentar para defender nossos direitos.
Para que possa avançar a luta da nossa classe, é preciso fortalecer a
CSP-Conlutas, é preciso que todos os sindicatos que queiram levar adiante a
luta da nossa classe devem se somar à construção da CSP-Conlutas, fortalecer
esta alternativa é, então, parte do que eu dizia antes, da necessidade de
fortalecer a organização da nossa classe. A organização nacional que temos hoje
é a CSP-Conlutas.
SINDECC - A brutalidade da Polícia Militar para com os trabalhadores no 24M vem
sendo questionado por todos. Desde a ditadura militar, não se via uma ação tão
brutal por parte da PM. Como você vê esta ação orquestrada pelo Estado burguês?
Zé Maria - O capitalismo, em sua fase de decadência como a que estamos vivendo,
precisa impor condições de vida cada vez mais precárias, mais miseráveis para a
grande maioria das pessoas. Não importa quanta riqueza é produzida, é da
natureza do capitalismo concentrá-la nas mãos dos Bancos e grandes empresários.
Então o sistema não pode atender nenhuma reivindicação importante dos
trabalhadores, pelo contrário, retira cada vez mais os poucos direitos que
temos. A única forma de fazer os trabalhadores aceitarem esta situação é
através da violência. Esse é o papel da repressão policial.
E por isso precisamos nos rebelar contra ela, pois se aceitamos os
limites que a polícia quer impor às nossas ações, vamos aceitar a escravidão a
que os bancos e grandes grupos econômicos querem nos impor. Os trabalhadores,
organizados e em luta, somos muito mais fortes do que toda repressão que o
Estado pode fazer. Nós vamos vencer.
SINDECC - No dia 29 de maio, as Centrais se reuniram para avaliar o Ocupe
Brasília. Nessa reunião ficou um indicativo de datas para a Greve Geral para o
final do mês de junho. Como vai se dar esse processo entre as centrais e suas
bases?
Zé Maria - Então, as centrais não aceitaram a greve de 48h que estávamos
defendendo. Na verdade, não queriam marcar uma nova greve geral, mas a pressão
que fizemos, e que os trabalhadores estão fazendo na base destas centrais
levaram a que a reunião que aconteceu nesta segunda (05/06) indicasse para 30
de junho a realização de uma nova greve geral.
Precisamos agora colocar toda força na preparação desta greve. Vamos
fazer uma greve ainda maior que a de 28 de abril e colocar o povo nas ruas para protestar. É muito importante desde já fazer as assembleias na base de cada
sindicato e votar a greve dia 30, para consolidar a convocação (as centrais
apenas “indicaram” a data), e garantir uma grande participação dos
trabalhadores e de toda população nesta luta.
SINDECC - Ao longo da história da classe trabalhadora, marxistas e anarquistas
tiveram seu peso nos embates contra a burguesia e o Estado. Trazendo para o
contexto atual, de que forma essas duas vertentes (do ponto de vista ideológico
e da ação direta) podem convergir e lutarem lado a lado?
Zé Maria - Este é um debate mais complexo, há muitas coisas que marxistas e
anarquistas podem fazer juntos, como participar de uma luta como a de Brasília,
por exemplo. Mas as estratégias são diferentes. Para os marxistas é fundamental
que nossa luta avance até que os trabalhadores possam tomar o poder e governar
a sociedade através de suas organizações, e acreditam que para isso é
fundamental a existência de um partido revolucionário que seja o polo
consciente da luta da classe trabalhadora. Os anarquistas têm opinião muito
diversa dessa. Opiniões que, como marxista, eu respeito, mas que levam a nossa
classe a um beco sem saída.
SINDECC - De que forma o PSTU e a CSP Conlutas vem construindo uma comunicação
independente, voltada para as ações das massas populares?
Zé Maria - O PSTU é um partido revolucionário, que luta em defesa dos direitos e
interesses dos trabalhadores, mas que tem como estratégia a organização e a
mobilização da classe trabalhadora como um todo para que ela possa assumir o
poder e governar o país. Defendemos o fim do capitalismo e a construção de uma
sociedade socialista.
A CSP-Conlutas é uma organização de frente única, que reúne sindicatos e
movimentos populares e que também luta em defesa dos direitos e interesses dos
trabalhadores defendendo uma sociedade justa e igualitária. O seu papel é unir
a todos e todas que querem lutar por isso, indistintamente do partido ou
opinião ideológica que tenham as pessoas e organizações.
Assim há muitas coisas que podemos fazer juntos. Mas sem misturar as
duas organizações, pois isso seria prejudicial para as duas.
A CSP-Conlutas tem suas instancias e é lá que tem de ser decidido o que
a central faz. Se ela ficar subordinada a um partido, perde a capacidade de
unir todos que querem lutar, pois excluiria os que não concordam com o referido
partido. Por isso a CSP-Conlutas se baseia no princípio da independência
política em relação aos patrões e governos, e também da autonomia em relação a
todos os partidos.
Por outro lado, o PSTU reúne os militantes e ativistas da classe
trabalhadora que concordam com o seu programa. E são as instancias do PSTU que
devem decidir o que faz o partido.
SINDECC - Por que Greve Geral e Eleições
Gerais e não Diretas Já?
Zé Maria - Essa campanha lançada pela tal Frente Ampla pelas
Diretas Já, na verdade, quer desviar a ação da classe trabalhadora, da
organização da greve geral para derrotar as reformas, para fazer campanha por
eleições diretas para presidente.
Eleições para presidente significa que o Congresso
Nacional que está aí, fica. E é justamente o Congresso Nacional que está
aprovando as reformas. Este é o primeiro problema desta proposta. Se o governo
Temer cair, e não tivermos ainda condições de lutar por um governo socialista
dos trabalhadores, com greves e mobilizações de rua, então que, pelo menos,
lutemos por eleições gerais, para que o povo possa trocar todo mundo,
presidente, senador, deputado, governador, toda essa corja que está aí,
roubando o país e atacando os direitos dos trabalhadores.
Mas mesmo assim é preciso que não deixemos de
alertar os trabalhadores de que eleições não vão resolver os problemas que
afligem nossa vida. As eleições, como estamos vendo nas denúncias na TV todo
dia, são completamente controladas pelos patrões, pelos banqueiros e grandes
empresários. Eles compram a ampla maioria dos partidos e dos políticos que, no
governo, só fazem o que os patrões querem.
Então dizer para as pessoas que Diretas já é a
única forma de impedir as reformas é mentir para as pessoas. O que pode impedir
as reformas é a nossa luta, e por isso a tarefa agora é preparar a greve geral
e não ficar fazendo ato/show com artistas para defender direitas já enquanto o
Congresso aprova a reforma trabalhista e da previdência.
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